2011/07/11

Processo de produção de biocombustível


Por Rogério Bezerra da Silva e Alcides Peron

Desenvolvida em meados dos anos 2000 pelo “Professor Pardal” Paulo Lenhardt, a tecnologia processo de produção de biocombustível a partir de óleo vegetal usado está voltado à redução dos custos com a compra de combustível para caminhões e máquinas utilizados nas lavouras de cítricos de Montenegro (localizada a 55 Km de Porto Alegre-RS) e à redução dos danos ambientais causados pelo óleo de cozinha descartado pelos moradores e comerciantes na rede de esgoto da cidade.

O processo de produção do biocombustível envolve quatro etapas (ver Figura). Na primeira, o óleo vegetal, após ser usado em frituras, é armazenado em garrafas PET ou tonéis pelos moradores e comerciantes da cidade. A segunda etapa é a coleta do óleo pela equipe do IMCA (Instituto Morro da Cutia de Agroecologia), que hoje apóia o processo.

A terceira etapa é o processamento do óleo, que é dividido em cinco estágios: i) coloca-se o óleo coletado em um tanque para que as impurezas sólidas contidas nele decante; ii) retira-se o óleo do tanque; iii) mistura-se água ao óleo para dissolver o sal e o açúcar contidos nele; iv) ferve-se o óleo por alguns minutos para eliminar a água; v) como nem toda a água é eliminada nesse estágio, filtra-se o óleo com bombas equipadas com filtro prensa.

A quarta etapa é a conversão dos motores a diesel para receber o óleo vegetal processado. Nessa etapa, que distingue esse processo daquele de produção de biodiesel (em que se acresce soda cáustica ao óleo vegetal para diminuir a viscosidade dele), é instalado um kit, também desenvolvido por Paulo Lenhardt, no motor do veículo que utiliza a água quente que circula em seu radiador para aquecer o óleo vegetal até o ponto em que a viscosidade dele se equipare a do diesel convencional. Este sistema requer a instalação de um tanque de combustível adicional para o biocombustível.

A partida do veículo é dada com diesel e, depois do motor aquecido (o que leva de 5 a 10 minutos), o motorista aciona um interruptor instalado no painel do veículo que troca a alimentação de combustível para o óleo vegetal. O acionamento do interruptor pode ser feito a qualquer instante, mesmo com o veículo em movimento.

Figura: Processo de produção do biocombustível

 



Uma picape fabricada em 2001 vem sendo utilizada para testar a viabilidade do processo. Desde que a produção foi iniciada, a picape já rodou 240 mil quilômetros com biocombustível.

Uma dificuldade enfrentada por essa tecnologia é a concorrência com outras convencionais, tal como a de produção de biodiesel que, inclusive, vem recebendo maior apoio governamental.

Distinto do que ocorre em cadeias de produção de combustível convencionais, em que seus segmentos podem ser substituídos caso apresentem algum problema, todas as etapas de produção do biocombustível estão intimamente conectadas. Caso uma delas seja interrompida, todo o processo é paralisado, correndo o risco inclusive de não ser retomado.

Se no final do século XIX a indústria automobilística se apoderou do motor movido a óleo de amendoim, o convertendo a óleo mineral (diesel), o que se observa com o processo de produção de biocombustível a partir de óleo vegetal usado é o reprojetamento de uma tecnologia para servir à inclusão social, que possibilite aos atores sociais se libertarem das amarras do capital.